Tema complementar

Noções iniciais de políticas públicas

 

Iara Pinto Cardoso1


Políticas públicas são as ações do Estado voltadas a satisfazer as demandas da sociedade no intuito de amenizar as desigualdades sociais e proporcionar o bem-estar geral. Tais desigualdades estão relacionadas à renda, à saúde, à educação, ao trabalho e a todos os outros indicadores que possam afetar direta ou indiretamente o bem-estar das pessoas.

Dicionários de ciência política definem política pública a partir de componentes como o institucional (a política é elaborada ou decidida por autoridade formal legalmente constituída no âmbito da sua competência e é coletivamente vinculante), o decisório (a política é um conjunto-sequência de decisões relativo à escolha de fins e/ou meios de longo ou curto alcance numa situação específica e como resposta a problemas e necessidades), o comportamental (a política implica ação ou inação, fazer ou não fazer, sendo, acima de tudo, um curso de ação e não apenas uma decisão singular) e, por fim, o causal (políticas são produtos de ações que têm efeitos no sistema político e social).2

Cada política passa por diversos estágios e, em cada um deles, os atores, as coalizões, os processos e as  ênfases  são diferentes3. Logo, ao analisar as políticas públicas de um país, é necessário perceber, pelo menos, dois elementos: o interno, que é a operacionalização das políticas pelos órgãos que compõem o Estado; e o externo, que é o resultado almejado pela sociedade a partir da implementação das políticas públicas pelo Estado ou por aquele que o represente, afinal, como se sabe, a implementação dessas ações não envolve apenas o ente público. Na realização das políticas, o Estado conta, muitas vezes, com o apoio de entidades privadas que, em conjunto com ele, planejam, organizam, dirigem e controlam a prestação de serviços ao cidadão de acordo com o que prevê a legislação existente no ordenamento.

Isso demonstra que a realização de políticas públicas deve utilizar um componente de ação estratégica, isto é, deve incorporar elementos sobre a ação necessária e possível em determinado momento, projetando-a para um futuro próximo. Assim, levando em consideração esse aspecto temporal, é possível identificar políticas cujo horizonte é medido em décadas, as chamadas “políticas de Estado”, e políticas que se realizam como parte de um programa maior, as ditas “políticas  de  governo”.4

Por fim, as políticas públicas constituem um meio de aproximação das esferas de poder (Executivo, Legislativo e Judiciário) que compõem o Estado. Isso ocorre, pois, ao mesmo tempo em que uma esfera (Legislativo) cria a legislação que embasa as políticas, outra (Executivo) as coloca em prática e outra (Judiciário), ainda, as fiscaliza no sentido de atender às demandas sociais quando elas não estão sendo prestadas da forma como deveriam. E, nesse aspecto, é relevante dar enfoque ao papel prestado pelo Poder Judiciário, que tutela as políticas, na medida em que elas expressem direitos, e exclui juízos acerca da qualidade ou da adequação, em si, de opções ou caminhos políticos ou administrativos do governo, consubstanciados na política adotada.5

 

1 Economista. Analista técnico da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). Especialista em Gestão Pública e Planejamento de Projetos.

2SARAVIA, E.; FERRAREZI, E. Políticas públicas.Escola Nacional de Administração Pública. Brasília: ENAP, 2006, p. 31.

3 SARAVIA, E.; FERRAREZI, E. Políticas públicas.Escola Nacional de Administração Pública. Brasília: ENAP, 2006, p. 32.

4 BUCCI, M. P. Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. Universidade Católica de Santos. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 18.

5 BUCCI, M. P. Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. Universidade Católica de Santos. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 31.