Presidente da Comissão de Veneza condena tentativa de golpe na Turquia
Presidente da Comissão de Veneza condena tentativa de golpe na Turquia

Em mensagem enviada ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, o presidente da Comissão de Veneza, Gianni Buquicchio, condenou veementemente a tentantiva de golpe de Estado na Turquia no último final de semana. Segundo Buquicchio, quaisquer mudanças no governo deve seguir canais democráticos e “é essencial respeitar a legislação”.
Em relação à prisão de dois juizes da Corte Constitucional e cinco membros do Conselho Superior da Magistratura naquele país, além do afastamento de 2.700 juizes, o presidente da Comissão de Veneza ressaltou que este não é um meio aceitável para restaurar a democracia. “Como qualquer cidadão, cada juiz tem o direito a um processo equitativo - disciplinar ou criminal - durante o qual a sua responsabilidade deve ser devidamente provada e os seus direitos de defesa devem ser respeitados”.
Membro da comissão
O ministro Gilmar Mendes é representante permanente do Brasil na Comissão de Veneza, que é um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais. Criada em 1990 a partir de acordo entre 18 membros do Conselho, passou a permitir que Estados não europeus se tornassem membros a partir de 2002. Hoje conta com 58 países-membros, e o Brasil a integra desde 2008.
Concebida inicialmente como uma missão emergencial voltada para as novas democracias do Leste Europeu após o fim do comunismo, a comissão hoje é reconhecida como um fórum independente e qualificado em assuntos legais. Desempenha, também, importante papel no gerenciamento de crises e prevenção de conflitos por meio de aconselhamento em temas constitucionais.
A adesão do Brasil foi impulsionada pelo Supremo Tribunal Federal, órgão com o qual a Comissão entrou em contato no quadro de cooperação com a Conferência Iberoamericana de Justiça Constitucional, da qual o STF é membro fundador. Com essa adesão, o Brasil tornou-se o 56º país membro da Comissão de Veneza.
Na última segunda-feira (18), o ministro Gilmar Mendes emitiu uma nota à imprensa em repúdio ao ocorrido na Turquia:
“A prisão de juízes compromete gravemente o Estado de Direito e merece o repúdio de todos. Trata-se de uma grave ameaça e, por isso, a Justiça Eleitoral vai pedir providências à Comissão de Veneza, Comissão Europeia para a Democracia através do Direito, e ao Idea, Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral.
A Justiça Eleitoral brasileira pugna pela liberdade de expressão e repudia prisões sem individualização de conduta ou destituídas de provas.
Maior democracia da América Latina, o Brasil tem uma população superior a 202 milhões de habitantes, sendo necessária uma manifestação firme por parte das autoridades brasileiras a respeito destes graves fatos que atentam contra a garantia dos direitos dos cidadãos da Turquia”.
Leia a nota do presidente da Comissão de Veneza na íntegra:
"Condeno fortemente a tentativa de golpe de Estado na Turquia, que tira do governo qualquer tipo de canal democrático. A imprensa turca noticiou que, desde o fracassado golpe, dois juízes da Corte Constitucional e cinco membros do Alto Conselho de Juízes e Promotores foram presos. Mais de 2700 juízes foram afastados e muitos outros foram detidos. Especialmente em relação à violenta tentativa de derrubada do governo eleito, é essencial o respeito às regras da lei. As demissões em massa e as detenções dos juízes não representam atos de manutenção da democracia. Como qualquer cidadão, cada juiz tem direito a um processo equitativo - criminal e disciplinar - e a responsabilidade de cada um deve ser devidamente provada, respeitado o amplo direito de defesa".
CM/TC