Voto em papel e fraudes: pressões políticas eram comuns durante o pleito

Confira a quarta entrevista da série que resgata memórias de brasileiros antes da urna eletrônica

Série voto em papel e fraude

O consultor madeireiro Rosalino Dias, 70 anos, tem um conselho para os jovens eleitores: “eu quero falar para os eleitores que não viveram na época do voto em papel que não se deve discutir a segurança das eleições se não tiver conhecimento de como ocorria antes da urna eletrônica. O sistema era simplório e fácil de ser fraudado. Hoje, você coloca o número do candidato e aparece a foto, então você sabe em quem está votando e não tem motivo para pensar que aquilo será manipulado com tanta tecnologia envolvida”.

Assista a entrevista no canal do TSE .

Série voto em papel e fraude

Segundo Rosalino, quem fala da urna eletrônica não viveu a contagem de votos manual. Ele era um jovem curioso e agitado, mas que cumpria o papel de cidadão como fiscal de eleições e escrutinador em uma cidade no interior de Goiás. E lembra que era comum, principalmente em municípios pequenos, a influência de pessoas poderosas para decidir o rumo da eleição.

Ele conta que o “político poderoso” local dava a ordem e o povo, que participava na contagem de votos, obedecia. “Era claro, para mim, que tinha como mudar o resultado daquela urna”, afirma, ao lembrar que também não havia como contestar o resultado de uma eleição.

Outros problemas

Rosalino recorda que para contar pouco mais de 100 votos demorava mais de quatro horas. “Numa cidade com cerca de 12 mil eleitores, normalmente só se sabia o resultado da votação no outro dia. O processo era muito demorado. Os escrutinadores contavam os votos até à meia-noite. Depois disso, trancavam as urnas na sala do promotor de justiça e só no outro dia se recomeçava a contagem até o resultado final”.

Sigilo do voto

Além disso, Rosalino explica que era fácil saber em quem o eleitor havia votado, uma vez que era possível identificar a caligrafia. “Se alguém conhecia como você escrevia e sabia onde você votava, na hora de conferir os votos daquela seção era possível saber que fulano votou no beltrano. Porque não existia só números como hoje, se identificava o voto escrevendo o nome também”, explica.

Naquela época, segundo Rosalino, a pressão pela quebra do sigilo do voto era mais explícita. “Era muito comum as pessoas responsáveis pela seção, não sei por qual razão, saírem do local. E ali se via cabos eleitorais com alguns presentes abordarem eleitores, geralmente pessoas simples, que perguntavam sobre quem votou. E ali ele ganhava um ‘agrado’. Era praticamente normal acontecer isso”, afirma.

Implantação da urna eletrônica

Com o processo eletrônico de votação em 100% das seções eleitorais brasileira, desde 2000, a confiança de que fraudes e desconfianças desapareceram é uma certeza para Rosalino.

“Eu considero que o Brasil é a vanguarda da contagem eletrônica dos votos. É muito bom você votar e logo depois do fechamento das urnas já saber praticamente o resultado das eleições em todo o país. Foi uma das coisas mais bacanas já feitas aqui no Brasil. Chega a ser prazeroso saber que temos isso no nosso país”, afirma orgulhoso.

“Não precisamos ter medo porque a urna é segura. Antigamente é que era inseguro e falho. Hoje você aperta teclas. Antes a pessoa recebia papeis com o nome do candidato recortado pra pessoa passar a caneta dentro e preencher, porque muitas pessoas não sabiam escrever. Hoje não existe isso. O eleitor vê o rosto na urna, apertou e acabou. Bem mais simples e mais seguro. A urna eletrônica chegou pra ficar e é um caminho sem volta”, finaliza.

Esse texto faz parte da série “Voto em papel e fraudes”, que relata depoimentos de cidadãos e cidadãs que participaram de perto das eleições antes do sistema eletrônico de votação.  A urna eletrônica foi um avanço tecnológico que eliminou a intervenção humana e tornou o processo eleitoral brasileiro um dos mais confiáveis do mundo.

TP/CM

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