Teste da Urna 2025: veteranos e calouros colocam em prática 35 planos de ataque
Evento finaliza na sexta-feira (5), na sede do TSE, em Brasília, e conta com a participação de 27 pessoas interessadas na segurança dos sistemas eleitorais

As investigadoras e os investigadores aprovados para participar da 8ª edição do Teste Público de Segurança dos Sistemas Eleitorais, o Teste da Urna 2025, trabalham para executar os respectivos planos de ataque para atestar a segurança dos sistemas que serão utilizados nas Eleições Gerais de 2026. Até sexta-feira (5), 27 pessoas (divididas em grupos ou individualmente) estarão no ambiente de testes montado no 3º andar do edifício-sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília (DF), para colocar em prática os planos, a fim de contribuir para o aperfeiçoamento dos sistemas de votação, apuração e totalização dos votos.
A iniciativa integra o ciclo de desenvolvimento dos sistemas de votação, apuração, transmissão, recebimento de arquivos e apoio às auditorias da urna eletrônica, sendo uma das principais oportunidades de fiscalização do processo eleitoral. O evento é uma demonstração do compromisso permanente da Justiça Eleitoral com a integridade das eleições. O Teste da Urna 2025 está sendo acompanhado por instituições fiscalizadoras, por observadores do meio acadêmico e pela imprensa, entre outros.
Entre os planos de teste aprovados, estão cinco propostas de um grupo de pesquisadores de Juiz de Fora (MG), que vai tentar corromper uma das fontes do sistema da urna eletrônica, com a finalidade de substituí-la por outra fonte, trazida pela própria equipe.
“A gente trouxe um dado e vamos tentar substituí-lo por outro”, explica Rosângela Marques, de 39 anos, que participa do Teste da Urna, pela primeira vez, sendo uma das três mulheres investigadoras desta edição. “Sou formada em Direito. Achei que não ia entender nada por não ser [do ramo] de TI, mas acho importante outras pessoas que não sejam de TI estarem aqui e terem acesso à informação de como funciona a urna. Até agora, pelo que a gente viu, é um sistema íntegro”, avalia.
Colaboração acadêmica
Participando pela terceira vez do Teste da Urna, o professor Carlos Alberto da Silva, da Faculdade de Computação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), afirma confiar na urna eletrônica. “A gente fica na expectativa de encontrar algum achado que se transforme em vulnerabilidade, mas até hoje nunca foi registrada uma invasão grave”, garante.
Ele e dois ex-alunos da UFMS se inscreveram como investigadores e estão testando a confiabilidade dos pen drives inseridos nas urnas e onde são registrados os votos dos eleitores. “Estamos testando se não é possível invadir esse software e gerar dados equivocados que vão para a urna”, informa o docente.
A Universidade de São Paulo (USP) participa do Teste da Urna desde 2021, quando foi firmado o Convênio de Pesquisa e Parceria entre a instituição e o TSE. Neste ano, a equipe continua o trabalho, sendo coordenada pelo professor Marcos Simplício Júnior. Além de acompanhar o evento, a USP realiza testes de segurança nos sistemas eleitorais ao longo do ano. “Nosso objetivo é fazer essencialmente o que os pesquisadores do TSE fazem, mas com um prazo maior. Trabalhamos o ano inteiro”, explica.
De acordo com o professor, a equipe da USP utiliza o Teste da Urna para verificar se sugestões de melhorias encaminhadas anteriormente foram corretamente implementadas, bem como para identificar novas oportunidades de aprimoramento. Muitas ideias originalmente avaliadas no TSE retornam ao laboratório da Universidade, onde podem ser expandidas, adaptadas ou transformadas em novas linhas de pesquisa.
“Para chegar ao nível desejado de segurança, é preciso testar por pessoas que desenvolvem o sistema e testar o raciocínio adversário”, explica Marcos Simplício, destacando a evolução do sistema da urna eletrônica. Segundo o professor, a ideia é pensar sobre como seriam os ataques possíveis de terceiros, que podem fazer análises e idealizar ações que os próprios desenvolvedores não idealizaram. “Ao longo dos anos, foram identificados alguns achados, sendo todos eles devidamente corrigidos na sequência”, afirma.
Debate qualificado
Marcos Simplício reforça que a presença da Academia contribui para a transparência e para um debate público mais qualificado. “Quanto mais entidades independentes participarem, melhor. Isso reduz a politização e aumenta a confiança no processo eleitoral”, observa.
Os Testes da Urna também alimentam diretamente a formação de mestres, doutores e estudantes de iniciação científica da USP. Atualmente, o projeto envolve pelo menos um doutorando, quatro mestrandos e cerca de oito alunos de iniciação científica, todos com pesquisas ligadas ao evento. Resultados obtidos na parceria devem, inclusive, compor futuras teses e dissertações.
“Vivemos de pesquisa e de formação. Parte dos resultados é entregue ao TSE, mas outra parte gera publicações e trabalhos acadêmicos”, destaca Simplício. Ele prevê, adicionalmente, a defesa de uma tese de doutorado, em 2026, baseada em achados ao longo dos testes.
Convênio TSE e USP
O Convênio de Pesquisa e Parceria firmado entre o TSE e a USP inclui quatro frentes principais:
- Teste da Urna (mais especificamente os processos de transmissão e recepção dos dados);
- estudos para o projeto “Eleições do Futuro”;
- desenvolvimento de “logs transparentes”, que buscam fazer a recontagem dos votos após a divulgação dos resultados no Portal do TSE; e
- propostas de verificabilidade fim a fim, cuja ideia é conseguir fazer testes na própria urna eletrônica que está sendo utilizada na votação por pessoas específicas.
Segundo Simplício, algumas dessas iniciativas já estão maduras o suficiente para testes reais, como os “logs transparentes”. Outras propostas demandam mais tempo. Ele ressalta ainda que a colaboração entre o TSE e a universidade proporciona benefícios mútuos: fortalece o sistema eleitoral e impulsiona a inovação dentro da pesquisa acadêmica.
GR, AN/LC, EM/DB

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