Presidente do TSE conclama sociedade a agir em prol da paridade de gênero
Rodas de conversa do evento contaram com personalidades femininas, como a cantora Fafá de Belém, além de atrizes, jornalistas, empresárias e ativistas

“Todo mundo tem o direito de ser igual em sua dignidade e único em sua identidade, garantindo-se a pluralidade das mulheres e o respeito a todas elas.” A afirmação foi feita pela presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, no encerramento do encontro “Democracia: substantivo feminino”, realizado na sede da Corte, em Brasília, nesta segunda-feira (24). Ao ler um texto redigido especialmente para refletir sobre tudo o que foi dito no encontro, a ministra conclamou toda a sociedade a agir em prol da paridade de gênero e do cumprimento dos direitos fundamentais.
O evento reuniu diferentes gerações de mulheres, que compartilharam experiências e opiniões sobre a equidade de gênero em diversos campos, entre eles o eleitoral e o político. A presidente do TSE agradeceu a cada uma e a cada um que esteve presente ao encontro, especialmente às painelistas, “que se deslocaram com tanta generosidade para estarmos juntas e ouvindo os ensinamentos de cada uma”.

Ministra Cármen Lúcia encerrou o evento na noite desta segunda (24). Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
De acordo com a ministra, reuniões de prosa, como a realizada hoje, são espaços “para que a gente possa refletir sobre que Brasil democrático temos, que Brasil democrático queremos ter e o que fazer para ter este Brasil que nós queremos, este mundo que nós queremos”.
Confira a íntegra do texto lido pela ministra Cármen Lúcia no encerramento do evento:
“Nós, reunidas no Tribunal Superior Eleitoral, no encontro “Democracia: substantivo feminino”, mulheres brasileiras, reafirmamos o nosso comprometimento com a efetivação jurídica e social dos direitos fundamentais de todas as pessoas.
Conclamamos a sociedade a adotar como sua a responsabilidade urgente, objetiva e plena para a concretização dos direitos fundamentais historicamente negados a muitos grupos, embora formalmente assegurados a todos.
É imperativo democrático a ação coletiva, para que cesse imediatamente o quadro de todas as formas de violência e exclusão contra a mulher. A democracia assegura a dignidade e a integridade de todas as pessoas. É imprescindível a atuação firme do Poder Judiciário nos casos de crime contra crianças e mulheres, tudo na forma da lei.
Todo mundo tem o direito de ser igual em sua dignidade e único em sua identidade, garantindo-se a pluralidade das mulheres e o respeito a todas elas.
Instamos cada uma e cada um a agir no sentido de se tornarem concretos os objetivos de inclusão social, de garantia de paridade de mulheres e homens nos cargos e nas funções públicas e privadas, de oportunidades iguais, de medidas de acesso à saúde e de redução do risco de doença e outros agravos, de segurança física e psicológica das mulheres, de garantia da educação, assegurada em idêntica qualidade e aprendizado permanente para todas as mulheres, de todas as idades, convicções religiosas, convicções políticas, classes sociais, territórios, cor e raça.
Todas as pessoas têm o direito e o dever de participar dos cuidados uns com os outros e de serem cuidados, sem entrega de afazeres particulares apenas às mulheres. Democracia faz-se com a garantia da liberdade, da solidariedade, da responsabilidade de todas as pessoas.
Somente numa afetuosa aliança política, cumpriremos os valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, como constitucionalmente determinado. Seguimos juntas.”
Democracia e presença feminina

Maria Ribeiro, atriz – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
A primeira roda de conversa do período da tarde do evento abordou o tema “Democracia e violências: atitudes e platitudes sociais” e contou com a presença da cantora e compositora Fafá de Belém, da empresária Luiza Trajano e da atriz Maria Ribeiro. Primeira a falar, Maria Ribeiro defendeu a necessidade de mulheres exaltarem outras mulheres. “Temos aqui uma advogada incrível, uma cantora incrível, uma empresária que muda a vida das pessoas. A ação pessoal é poderosa. Uma só pessoa pode mudar a vida de várias outras”, afirmou. “Conforme a gente vai se fortalecendo, como mulheres incríveis, isso pode ser contagiante. Com mais mulheres nos espaços de poder, em todas as esferas, podemos tornar a democracia mais possível”, salientou.

Fafá de Belém, cantora e compositora – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
A cantora Fafá de Belém também elogiou as colegas e falou dos caminhos para a construção da democracia. “Minha mãe e meu pai tinham visões políticas opostas. Sábado ‘o pau quebrava’ e ninguém brigava; discutia-se. Hoje, o grande problema é a polarização: se você não concorda com tudo que eu falo, eu te odeio”, disse. “Eu acho que esse não é o caminho. A democracia é uma grande mãe, que abraça todo mundo. Sem democracia, não podemos seguir”, opinou.

Luiza Trajano, empresária – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
Já a empresária Luiza Trajano reconheceu que nasceu em uma família com situação privilegiada, na qual as mulheres assumiam posições, como a tia, que foi uma grande empresária, e a mãe, que a incentivou a seguir o seu caminho. A empresária defendeu que mulheres devem ocupar cargos de alto nível, pelo menos metade deles em todos os níveis. “A nossa luta agora não é para ser aceita, é para ter poder”, disse.

Viviane Barci de Moraes, advogada – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
As participantes da roda de conversa também falaram sobre casos de violência contra a mulher e de exploração sexual de meninas. Mediadora do debate, a advogada Viviane Barci de Moraes ressaltou que ainda há um longo caminho para ser percorrido no que se refere à dignidade feminina, apesar dos avanços já conquistados.
Escuta x violência contra as mulheres

Denise Fraga, atriz e produtora – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
Na segunda roda de conversa da tarde, sobre o tema “Consenso de gerações: democracia e liberdade sem idade – passado, presente e futuros”, a atriz e produtora Denise Fraga apontou a escuta como ferramenta essencial para enfrentar narrativas que sustentam a violência contra as mulheres. Segundo ela, o diagnóstico da desigualdade de gênero já é conhecido e, agora, é necessário agir, por meio do diálogo com quem detém o poder, a fim de se estabelecer a escuta. A atriz ainda defendeu uma maior presença das mulheres em posições estruturais nos poderes, bem como a sororidade e a reparação histórica, inclusive por meio do voto.

Lúcia Braga, presidente da Rede Sarah – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
A neurocientista e presidente da Rede Sarah, Lúcia Braga, falou sobre as relações hierárquicas na área da saúde e afirmou que, embora o setor seja majoritariamente feminino, os cargos de poder ainda são ocupados quase sempre por homens. Ela citou o fato de o Brasil ter tido uma ministra da Saúde pela primeira vez apenas no governo atual, o que reflete, segundo ela, as desigualdades estruturais. Lúcia Braga também citou a médica Nise da Silveira, pioneira na psiquiatria no Brasil, como exemplo de talento feminino subestimado. Assim, na opinião da palestrante, para romper esse ciclo, o Brasil precisa de políticas institucionais e de mudança de percepção sobre o valor das mulheres na saúde.

Basília Rodrigues, jornalista – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
A jornalista Basília Rodrigues enfatizou que a desigualdade e a violência contra as mulheres continuam, apesar dos avanços. Ela questionou como a sociedade tem enfrentado problemas que atravessam gerações e defendeu ações mais concretas em todos os ambientes. Segundo ela, a trajetória para ocupar espaços de poder é ainda mais dura para mulheres negras. “O meu apelo é para que a gente possa sair daqui com uma missão: como eu posso ser uma peça que realmente tenha poder nesse xadrez? Não existe uma fórmula para isso, uma resposta exata e definitiva, mas ela precisa ser colocada em prática no ambiente pessoal, de trabalho, individual e coletivo”, afirmou.

Thaís Pitaguary, líder indígena – 24.11.2025. Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE
Última a falar, a ativista indígena Thaís Pitaguary defendeu uma ampla mobilização da sociedade civil para a garantia dos direitos políticos das mulheres e ressaltou a importância da participação dos jovens nos espaços de poder e do interesse pela política e pelo voto. “Sem votar em mulher, a gente não vai avançar. A gente precisa dessa mudança. E não é só votar em mulher, mas votar em mulheres que defendam outras mulheres. Precisamos fazer a juventude enxergar que pode ocupar espaços em todos os lugares, na política e além dela. É dessa forma que teremos uma sociedade mais justa e democrática”, concluiu.
A roda de conversa foi mediada pela juíza Karen Luise de Souza, conselheira do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Confira abaixo a íntegra do evento:
Período da manhã:
Período da tarde:
GR, CL, RL, MC/LC
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24.11.2025 - Preconceitos, dignidade feminina e ações afirmativas de gênero: temas de roda de conversa do TSE
24.11.2025 - Ministra Cármen Lúcia afirma que “não há democracia com desigualdade, discriminação e violência”

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